sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
PARALELO 30
Marco histórico da música de Porto Alegre, assim como do Rio Grande do Sul, paralelo 30 foi o primeiro disco considerado como MPG, Musica Popular Gaúcha, a música urbana, foi um marco no nosso cenário musical, foi a partir deste momento que impulsionou a carreira de vários músicos de forma profissional.
Na verdade o movimento musical já era efervescente, porém não havia nenhum registro fonográfico, “foi a primeira vez” de consagrados músicos de Porto Alegre, como Nelson Coelho de Castro, Bebeto Alves, Carlinhos Hartlieb, etc.
A idéia foi do Jornalista Juarez Fonseca, que tinha o desejo de registrar a ebulição musical da época, e levou esta idéia a Gravadora Isaec,
Geraldo Flach recém tinha assumido a direção da gravadora, e esta possuía uma mesa de gravação Audio Design com 16 canais, comparada com as melhores do centro do pais, paralelo trinta foi o primeiro disco gravado nesta mesa e saiu com o selo Pentagrama, a Isaec possuía quatro selos para diferente tipos de musicas. O LP, saiu no final de 1978 reunindo seis músicos que foram convidados, Nelson Coelho de Castro, Carlinhos Hartlieb, Raul Ellwanger, Nando d’ávila, Bebeto Alves e Cláudio Vera Cruz. Sobre o convite para participar deste projeto, Nelson Coelho de Castro, nas comemorações de vinte anos declarou a ZH, “ O coração galopava no goto quando desliguei o telefone. Juarez Fonseca, o fulcro, estava me convidando para participar de um disco. Era final de 1977. Disco coletivo. Duas faixas, duas músicas para cada compositor: Bebeto, Nando e eu (os da nova geração, alcunha já decepada pelo tempo) e mais Raul, Carlinhos e Cláudio, que já estavam na carta de navegação. Meus Deus, gravar era, e ainda é, sonho infante da magia do disco...” e assim prossegue em emocionante testemunho em uma crônica escrita por ele em Zero Hora do dia 22 de maio de 1998.
O disco vinil tinha em sua capa as fotos dos artistas e na contracapa o mapa do Rio Grande do Sul com uma faixa branca sobre o paralelo trinta – Porto Alegre, as fotos ficaram a credito de Leonid Streliaev consagrado fotografo de Porto Alegre e a arte de Gerson Scherer.
Idéia do Jornalista Juarez Fonseca, que considerou adequado o registro com seis músicos cada um gravando duas músicas, Nelson Coelho de Castro com Rasa Calamidade e Águias, Bebeto Alves com Que se passa ? e De banquetes e de Jantares, Raul Ellwanger, Te procuro Lá e Fronteiras, Cláudio Vera Cruz, com Sem Rei e Ruínas de um Sonho, Carlinhos Hartlieb com Admirados por todos e Maria da Paz e por fim Nando D’ávila com Água Benta e Como Relâmpago no céu. A música que iniciava o LP era Que se passa, e a música de maior sucesso foi Maria da Paz de Carlinhos Hartlieb, também bastante tocada Rasa Calamidade de Nelson Coelho de Castro.
Juarez Fonseca, o produtor, descreve o projeto no encarte da seguinte maneira:
- “ Da série de antologias de novos contistas e poetas, surgidas no Rio Grande do Sul nos últimos tempos, me surgiu a idéia de propor à ISAEC a gravação de uma “antologia” de compositores, mostrando um trabalho feito agora. A sugestão foi feita em dezembro de 1977; em fevereiro começamos a gravar com Carlinhos Hartlieb, Raul Ellwanger, Nando d’ávila, Nelson Coelho de Castro, Bebeto Nunes Alves e Cláudio Vera Cruz. Os nomes poderiam ser ampliados, poderiam ser dez ou doze, cada um com uma faixa. Mas achei que seria mais interessante escolher seis e dar a cada um a oportunidade de mostrar pelo menos dois tempos de sua criação. Então, evidentemente, a escolha tem um certo caráter subjetivo. Paralelo 30 me parece que mostra um novo início de trabalho, mesmo que alguns de seus integrantes tenham já cerca de anos de vida ligada à música. É o caso de Raul, Carlinhos, de Cláudio. Nando, Bebeto e Nelson são da Segunda metade dos anos 70 mesmo.
Paralelo 30 é um disco gaúcho, mas não é um disco gauchista. Ele mostra tendências que coexistem aqui, em Porto Alegre, e que são resultado de muitas influências, inclusive a recente influência da consciência da terra, do que se vê e faz no lugar. Desde uma nova-milonga como Que se passa? Onde Bebeto fala da fronteira de Uruguaiana, sua terra natal, até o samba-choro Te Procuro Lá, que Raul compôs com Ferreia Gular em Buenos Aires. Desde a “invenção” de Nelson Coelho de Castro falando da sujeira Urbana, até o quase-baião Como Relâmpago no Céu, de Nando. Desde a latina Maria da Paz, de Carlinhos, até as canções pop-rurais do citadino Cláudio. Ao mesmo tempo, Raul tem uma música pampeana. Fronteiras; ao mesmo tempo bebeto tem uma quase-tango, De banquetes e Jantares. E assim por diante. Mas isso é apenas um trecho, um pedaço do trabalho deles. São as primeiras coisas que eles podem mostrar ao nível de uma gravação profissional (mesmo que, como eu disse, três deles tenham mais de dez anos de trabalho). Então, se pode dizer que Paralelo 30 é um disco de estréias. Um disco ao mesmo tempo sujo e limpo, como sujas e limpas são as coisas verdadeiras. Mas não pretende representar nada, em termos de Rio Grande do Sul – aqui há muita coisa entocada, por ser descoberta, ao lado de coisas que só não foram descobertas por acidente geográfico: não somos Rio ou São Paulo. Paralelo 30 representa uma parte do trabalho de seis autores. Apenas uma antologia. Mas uma primeira antologia. Neste texto procurei não quexar-me pelos músicos, pois hoje penso que as dificuldades que todos enfrentaram são apenas pedras no caminho. E as pedras no caminho, mais cedo ou mais tarde, ficam para trás (Ah!: o nome Paralelo 30 é idéia de Geraldo Flach). ”
É de resaltar que a música Te procuro Lá, de Raul Ellwanger foi composta juntamente com o Poeta Ferreira Gular em Buenos Aires, Raul estava exilado devido a ditadura enfrentada pelo Brasil, e no momento do disco estava retornando ao pais, Raul mora hoje em Santa Catarina onde administra uma pousada na Praia do Rosa as Cabanas Estação Baleia.
Bebeto Alves, continua na luta fazendo música e tendo relativo sucesso, até o final de 2002 apresentou o Roda Som na TVE, um belo projeto, só não assina mais Bebeto Nunes Alves, o Nunes ficou para trás, mora no Rio de Janeiro.
Nelson Coelho de Castro a cantor da cidade de Porto Alegre e Cláudio Vera Cruz continuam na música, Carlinhos Hartlieb e Nando d’ávila morreram.
Sempre citando Juarez Fonseca, afinal foi ele o pai da criança, o precursor: - em 1973 não existia quase nada em Porto Alegre, as coisas começaram a surgir no ano seguinte com as Rodas de Som criadas por Carlinhos Hartieb, tinha os Almôndegas, Hermes Aquino e mais três ou quatro bandas de rock. O passo seguinte foi a antológica Rádio Continental, através do apresentador Julio Fürst que em 1975 criou Mr. Lee In Concert, sem dúvida foi Júlio que começou a rodar a música produzida aqui em Porto Alegre, o sucesso foi tanto que desembocou nos famosos festivais Vivendo a Vida de Lee, na verdade, amostra dos grupos, o sucesso era tanto que faltava lugar, o primeiro no Teatro Presidente com capacidade para 1500 pessoas haviam 3000. Mais o Festival Musipuc que alavancou a carreira de muitos destes jovens músicos, então a linha cronológica bem simples é mais o menos assim, Rodas de Som no teatro de Arena, Musipuc, Rádio Continental, Vivendo a Vida de Lee, Paralelo 30.
Entre tantas homenagens, uma das maiores foi lançada em 2001 pela Unissinos, Paralelo 30 ontem e hoje, lindo espetáculo que reuniu em palco e disco este artistas, Carlinnhos Hartlieb foi substituído por Gelson Oliveira, e para interpretar as canções de Nando D’ávila foi escolhido Zé Caradípia, o projeto cultural teve a participação da orquestra Unissinos, e foi concebido pelo maestro José Pedro Boéssio que também era criador da Orquestra, José Pedro Boéssio, faleceu em acidente de transito no dia 28 de janeiro de 2001.
O projeto cultural além de shows tinha dois CDs, o primeiro CD a Orquestra revisa as obras do LP original de 1978 e também músicas mais novas dos mesmos autores. As interpretações mesmo sendo novas foram mantidas suas originalidades, as exceções foram Gelson Oliveira interpretando as músicas de Carlinhos Hartlieb e Zé Caradía no lugar de Nando D’ávila. Já o segundo CD é a versão integral e original da primeira coletânea.
Não é preciso nem relatar o tamanho do sucesso do projeto, apenas vamos mencionar os prêmios ganhos no “ Prêmio Açorianos de Música ” a saber:
Intérprete de MPB Gelson Oliveira com as músicas Manhã e Maria da Paz de Carlinhos Hartlieb.
Melhor música ou canção, Maria da Paz.
Técnico de Som, Renato Alscher, responsável pela mixagem e masterização do disco 1.
Arranjador, Vagner Cunha, pelo disco 1.
Menção especial, Usissinos, pelo investimento na área de música.
Disco de MPB, CD Paralelo 30, ontem e hoje.
Para finalizar, quando Juarez Fonseca escreveu na contra capa do disco, que o disco não pretende representar nada, foi seu único erro, representou e representa muito para a música de Porto Alegre.
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