sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009



A Nega Lú


Luiz Bastos era seu nome, mas todo mundo só conhecia por Nega Lú, figura tradicional da esquina maldita.
Sua presença era o equilíbrio entre o medo da repressão “di cair”, do DOPS, e a alegria louca da Nega Lú.
Circulava com desenvoltura em toda esquina maldita e toda Osvaldo Aranha, mas seu ponto predileto era no Copa 70, bar da esquina da Sarmento com Osvaldo, que tinha esse nome em homenagem ao tri campeonato brasileiro no México, enquanto no Alaska as discussões eram sempre sobre política, no Copa 70 a coisa era mais liberal, circulavam os mais “modernos” o território era livre, mas era comum grupos de estudantes saírem do Alaska para “rachar” um carreteiro no Copa.
Pois nesse território Nega Lú fazia seus shows particulares, suas performances sem programação prévia.
Nunca teve problema com sua sexualidade, homossexual, era respeitado em todos os grupos que freqüentavam a esquina, nem podia ser diferente a esquina era vanguarda.
Inovador, extremamente ousada, desafiava os padrões e provavelmente a figura mais conhecida da esquina maldita, mesmo como toda a agitação política, a Nega Lú sem dúvida fora a figura mais marcante da esquina.
Professora de dança, carnavalesca era também a rainha da Banda Saldanha Marinho que saia pelas ruas do Menino Deus.
A Saldanha Marinho é o típico exemplo de manifestação cultural e popular de Porto Alegre.
Com a morte de Nega Lú, foi-se também um pouco da alegria da espontaneidade de uma cidade mais alegre.
Segundo Mery Mezzari, quando da sua morte disse “ A Nega deixa saudade nos corações de seus amigos, amigas, parentes, vizinhos. Com ela, vai-se um pouco da alegria e da ousadia deste Porto Alegre.Vai, Nega, que a tua trajetória seja iluminada por um globo de boate, que muitos “bofes” maravilhosos te esperem no Paraíso. Porque a gente sabe que tu não estás morta. Tu viraste purpurina”.

4 comentários:

  1. Um dos pontos preferidos tambem era o bar "ESCALER",que ficava ao lado do parque de diversão da redenção.

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  2. Nos últimos anos, gerenciava o misto de café/restaurante/inferininho DOCE VÍCIO, situado em uma travessa da José Bonifácio. Não esqueço nunca, ao adentrar o recinto, hábito comum de muitos ao menos uma vez por semana para um lanche ou simples diversão com os tipos que frequentavam o ambiente, certa vez, com amigos e amigas loiríssimos, branco platinado, entramos e, ao pisar no salão, a Nêga Lú, sem papas na língua gritou com aquele vozerão: HUMPF! BIBA ALEMÃ! O recinto inteiro ria, inclusive nós, que de alemães temos somente a amizade!

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  3. Puxa vida, agora que eu soube desta reportagem. Nega Lú era minha "madrinha". A louca, doida varrida da Nega Lú. Com um vozerão que era de arrepiar. Dona de um repertório de palavrinhas e palavrões, sem papas na língua. Ousasse pisar no calo dela... ela "rodava a baiana com gilete no babado" e "ai de quem estivesse por perto"... Mas eu amei esta louca. Amei como um afilhado ama. Amei com respeito, carinho e dedicação. A última vez que a vi, sentamos em uma mesa do então Escaler, tomamos uma cerveja ao som de Cazuza. Depois, fui para casa, com ela dizendo ao fundo: "Te cuida meu guri, as andanças da vida são loucas e não voltam atrás. Não olhe para trás, siga em frente..." Era o tempo do final de minha "aborrescência". Aprendi muito com ele(a), principalmente o respeito ao ser humano.

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