quinta-feira, 26 de abril de 2012



Décio Freitas

(Ele revirava o passado procurando soluções para o Brasil – Luis Augusto Fischer)



Gaúcho da cidade de Encantado nascido em 06 de setembro de 1922, Décio Bergamaschi Freitas se mudou para Porto Alegre para estudar no Colégio Rosário.

Formou-se em Direito pela Universidade do Rio Grande do Sul, onde iniciou intensa militância política no Partido Comunista Brasileiro e o trabalho na imprensa.

Décio é, sem dúvida nenhuma, o responsável por um organizado movimento negro no Brasil, e se hoje o tema do racismo é recorrente, boa parte do crédito pode ser dado ao historiador gaúcho.

Pesquisador da cultura negra, pioneiro na sistematização de Zumbi dos Palmares.
Seu livro de 1971, Palmares, a Guerrilha Negra, começou a ser escrito quando ele ainda cumpria exílio no Uruguai após o golpe militar, nele Décio recupera a luta contra a escravidão em Palmares é nele que apresenta dados e informações que mudaram a forma de encarar a resistência do Quilombo dos Palmares, como a maior insurreição escrava da América Latina, e onde o autor comprova a existência do herói Zumbi dos Palmares. Sua obra provocou transformações reais e não apenas intelectuais.

Em sua vida mesclou história e jornalismo em seu tipo de escrita.

O faro de jornalista ele adquiriu na década de 40, quando foi repórter do Correio do Povo e do Diário de Notícias - escreveu artigos também para a revista Continente de São Pedro. Com Dyonélio Machado, fundou a Tribuna Gaúcha, primeiro diário gaúcho de esquerda. Entrevistou figuras como Getúlio Vargas, Borges de Medeiros e Flores da Cunha. Com o primeiro, passou longos dias e noites conversando nas fazendas de Santos Reis e Itu, em 1946. A cada manhã, Décio transcrevia os diálogos para que o ex-presidente corrigisse eventuais equívocos com o próprio punho. Tinha planos de publicar um livro reunindo as entrevistas, com o título de Conversações com Getúlio Vargas, mas não teve tempo para isso. "Os intelectuais gaúchos não produzem reflexões sobre o Brasil. 0 sentimento separatista e o irredentismo agem no Rio Grande do Sul, inconscientemente e incontestadamente" DÉCIO FREITAS, NA APLAUSO 2 (1998) .

No tradicional almoço das quintas-feiras, no restaurante Copacabana, costumava deliciar os amigos com histórias que oscilavam entre o patético, o melodramático, o grotesco e o sublime. "A versão de uma história não era exatamente a mesma um ano mais tarde. A maior parte era proibida para menores", conta Gonzaga. Como a do homem com dois pênis, que Décio relatou, certa vez, ao cineasta Cacá Diegues, de quem foi consultor no filme Quilombo, em 1984.Exímio dançarino, gabava-se de ter aprendido tango com as amigas dos prostíbulos. "Décio dominava todas as manhas da sedução anteriores à revolução dos costumes dos anos 60. Ante a presença feminina, sua voz se adoçava e se alongava como um veludo. Neste ponto, era inexcedível", diz Gonzaga. (www.paginadogaucho.com.br).

Décio mantinha uma coluna no jornal Zero Hora, morreu no dia 09 de março de 2004 aos 81 anos de idade, deixando quatro artigos prontos, no dia 07, Zero Hora publicou “Esqueleto no Armário ? ” Reproduzido na integra abaixo, logo após segue a lista de seus livros publicados.



Esqueleto no Armário



Primeiro houve a morte de Juscelino Kubitscheck. Na tarde de 22 de agosto de 1976, o ex-presidente viaja de automóvel para o Rio. Na altura do km 143 da BR Rio/São Paulo, seu Opala se choca com uma carreta. O ex-presidente e seu motorista têm morte instantânea. Curioso: 15 dias antes, 7 de agosto, correra nos meios políticos e jornalísticos o boato de que Juscelino morrera em acidente de carro, em viagem de sua fazenda em Luizânia para Brasília. Ele planejara a viagem, mas desistira à última hora.

Quatro meses depois, a morte de João Goulart. Em 6 de dezembro o ex-presidente acha-se em sua estância de La Villa, em Mercedes, fronteira com o Brasil. A certa hora da noite vai dormir. Pelas três da madrugada, a esposa Maria Teresa ouve forte estertor do marido. Ele não responde e constata-se que está morto. Por enfarte, diz-se. O ex-presidente era de fato cardíaco, mas o problema achava-se sob controle. Pouco antes, viajara à França para exames e medicava-se regularmente. Causa-mortis:
enfermedad, reza vagamente o atestado de óbito. O governo militar argentino libera o corpo para ser enterrado no Brasil, dispensando a autópsia, obrigatória em tais circunstâncias.
Segue-se, finalmente, a morte do ex-governador do Rio de Janeiro Carlos Lacerda. Em 21 de maio de 1977, ele apresenta sintomas que parecem ser de forte gripe. Internado na Clínica São Vicente, morre inesperadamente durante a noite, sem um diagnóstico preciso. Surgirá depois uma suspeita de septicemia, cuja origem nunca se explicou.

As três mortes ocorrem num período de nove meses. Àquela altura, os três políticos eram inimigos jurados do regime militar. Quando governador do Rio, Lacerda fora o furioso mentor do golpe. Deflagrado este, Juscelino apressou-se a apoiá-lo. Logo ambos viram-se vítimas da política de Saturno: o regime cassou-lhes os direitos políticos. Então, em 1967, os três párias políticos resolveram unir-se contra o regime, formando a Frente Ampla. O encontro entre Jango e Lacerda, em Montevidéu, em setembro de 1967, tinhja tudo de inverossímil. Lacerda levara Getúlio ao suicídio e Jango ao exílio. Na nota expedida ao fim do encontro, justificaram a união pela "necessidade inadiável de promover o processo de redemocratização". Na nota, Jango reafirma o que sempre sustentara: "interesses dos trabalhadores", extinção das "instituições arcaicas", "nacionalismo econômico", "desenvolvimento com justiça social". Lacerda vazia radical
volte-face, subscrevendo tudo que sempre denunciara como subversivo. Na nota, Jango rompia politicamente com o cunhado Leonel Brizola, que preconizava a derrubada violenta do regime.

Suspeitou-se de imediato da causa da morte dos três líderes da Frente Ampla. Não teria sido acidental ou natural, mas frio assassinato a mando do regime. Redemocratizado o país, houve investigações por duas comissões da Câmara dos Deputados: uma sobre a morte de Juscelino, outra sobre a de Jango. Ambas inconclusivas: havia de fato "um somatório de dúvidas", mas só futuros "fatos novos" podiam esclarecer. Reforçando a teoria conspirativa, Miguel Arraes declarou em depoimento que Jango fora de fato "assassinado".

O recente livro O Beijo da Morte, de Carlos Heitor Cony e Anna Lee, é um thriller que mistura realidade e ficção, espicaçando velhas dúvidas sobre as mortes dos três políticos. Suscita a hipótese de assassinato pela Operação Condor, de existência tão falada e há pouco comprovada por documentos do governo americano. Os regimes militares davam sinais de esgotamento e os EUA já cogitavam de encerrá-los. O candidato democrata Jimmy Carter anunciava isso e depois o pôs em prática, quando presidente. Antecipando-se, as ditaduras da Argentina, do Brasil e do Uruguai visariam, pela Operação Condor, a eliminar as lideranças civis mais perigosas a transições sem riscos.

Admitem os autores não ter provas, apenas "indícios". E talvez a palavra final sobre o mistério das três mortes "nunca seja possível". O poder costuma trancar seus esqueletos em armários à prova de inquirições históricas.

Publicações:

  • Palmares - La Guerrilha Negra, Montevidéu, Nuestra América, 1971.
  • Palmares - A Guerra dos Escravos, Porto Alegre, Movimento, 1971.
  • Insurresições Escravas, Porto ALegre, Movimento, 1975.
  • Escravos e Senhores-de-Escravos, Porto Alegre, Escola Superior São Lourenço de Brindes/UCS, 1977.
  • Cabanos - Os Guerrilheiros do Imperador, Rio de Janeiro, Graal, 1978.
  • O Escravismo Brasileiro, Porto Alegre, Escola Superior São Lourenço de Brindes/Vozes, 1980.
  • O Capitalismo Pastoril, Porto Alegre, Escola Superior São Lourenço de Brindes, 1980.
  • Escravidão de Índios e Negros no Brasil, Porto Alegre, Escola Superior São Lourenço de Brindes/UCS, 1980.
  • O Socialismo Missioneiro, Porto Alegre, Movimento, 1982.
  • A Revolução dos Malês, Porto Alegre, Movimento, 1985.
  • Brasil Inconcluso, Porto Alegre, Escola Superior São Lourenço de Brindes, 1986.
  • A Comédia Brasileira, Porto Alegre, Sulina, 1994.
  • O Homem que Inventou a Ditadura no Brasil, Porto Alegre, Sulina, 1999.
  • O Maior Crime da Terra, Porto Alegre, Sulina, 1996.
  • República de Palmares: pesquisa e comentários em documentos históricos do século XVII, Edufal, 2004.
  • A Miserável Revolução das Classes Infames, Rio de Janeiro, Record, 2005.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Bar João


O epílogo do Bar do João

Embora fechado já há um bom tempo, o prédio que abrigou o lendário Bar do João, está chegando ao seu fim. Tradicional reduto da boemia de Porto Alegre, no local será construído um moderno centro comercial - com dezesseis andares - que ocupará toda a extensão do não menos lendário Cine Baltimore. Tanto o cinema quanto o bar representaram, por muito tempo, a cena cultural não somente do Bom Fim, mas de boa parte dos porto-alegrenses.

O fundador do Bar do João, João Brum, afirmou em entrevista ao Já Bom Fim, em julho de 2005, que ali passou os melhores momentos de sua vida. Também, na ocasião, revelou outras curiosidades.

João administrou seu bar por mais de quarenta anos. Porém, tudo começou no mais antigo e tradicional Bar do Serafim, conhecido como Bar do Fedor (que nunca fechava), e é merecedor de outra história. Ali João começou como garçom em 1937 e logo se tornou gerente.

Permaneceu na função por 11 anos. Após esse período, montou seu próprio negócio com um sócio - o Bar Imperial - para desgosto de Serafim. O Imperial durou quatro anos. Terminada a sociedade, finalmente montou seu próprio comércio, - o Bar Azul - na Osvaldo Aranha, 1008.

E foi nesse endereço, num amplo sobrado, que nasceu o famoso Bar do João. O comerciante colocou umas mesas de snooker nos fundos e foi morar no andar de cima. Por lá viveu por 27 anos. Na entrevista ao Já, João narra: “o salão do bar era muito familiar, com toalha e flores nas mesas. O movimento começava às 5h da madrugada: eram leiteiros, açougueiros, fiscais da saúde – gente que trabalhava cedo e que ia tomar café lá. Seguia aberto até a meia-noite ou até o último cliente. Tinha dias que ficava 24 horas sem fechar”.

O bar era frequentado pelos mais variados tipos – funcionários do HPS, professores, médicos, advogados, jornalistas, estudantes e também por uma clientela marginal, até mesmo por moradores de rua. Todos, de uma forma, se integravam ao espírito que marcou o Bar João, a universalidade cultural e a pluralidade social de seus frequentadores. “A freguesia era muito boa e o ambiente agradável”, resumiu João ao jornal em 2005. “Os velhos judeus ficavam horas lá, jogando pauzinho. Também se falava muito em futebol. O Carangache, um judeu “gremista doente”, era famoso também porque falava muito alto. A maioria no bar era gremista. Eu fui até sócio”.

E ao entardecer, esse público sofria uma transformação total. E do dia para a noite, com suas mesas de bilhar, atraia boêmios e toda a sorte de malandros, figuras que ficaram conhecidas pela caracterização do “magro do Bomfa”, criado e interpretado pelo humorista gaúcho André Damasceno – hoje conhecido pela imitação do ex-presidente Lula no programa global Zorra Total. Era a noite que o bar reunia uma frequência totalmente eclética, em que se misturavam, mais para a década de 80, jovens, marginais, militantes políticos, entre outros grupos. Passaram por ali e marcaram sua presença constante, políticos de todas as matizes, da esquerda a direita. Nomes como Isaac Ainhorn, que construiu sua história política como o vereador do Bom Fim, além de figuras como de vários prefeitos que comandaram nossa cidade, como Raul Pont, José Fogaça e o atual chefe do Executivo José Fortunati passaram pelas mesas do Bar João.

Também atores, músicos, aliás o Bar João foi cantado em verso e prosa em diversas composições, sendo a mais conhecida a dos irmãos Kleiton e Kledir eram freqüentemente vistos na noite do Bom Fim, exatamente no Bar João. De João Gilberto a Nei Lisboa, de Bebeto Alves aos Fagundes, não teve quem não passou pelo ambiente eclético do Bar João.

E assim, a noite caia e pela manhã o famoso café moído na hora, cujo cheiro ia até a calçada, atraia os velhos judeus aposentados e comerciantes, que para lá iam para tradicional jogo de “pauzinho” e suas intermináveis conversas. Como diziam alguns comerciantes, era a sala de reuniões, onde muitos negócios eram fechados.

João vendeu o Bar em 1979 para Júlio Leite, que ficou no velho sobrado até 1992, ano em que foi demolido para a construção de uma garagem. É nesse momento que o Bar do João vai para o imóvel localizado a poucos metros do antigo, na Osvaldo Aranha, 1026, seu último reduto e que agora dá seu suspiro final.

Nesse endereço a fama seguiu e se ampliou pela variedade de cachaças que ficavam a vista de todos, nas prateleiras atrás do longo balcão de atendimento, em grandes vidros transparentes. Tinha de tudo, misturas com ervas, chás, frutas das mais variadas. Em alguns vidros, para brincar com os clientes, cobras, aranhas e outros insetos peçonhentos – de plástico é claro – chamavam a atenção, para espanto dos menos desavisados.

Tudo ali, a disposição dos fregueses, e sempre sob olhares dos precursores da boemia e dos aposentados e comerciantes que continuaram a integração de culturas, do dia para a noite, jogando “pauzinho”, tomando café e assistindo a transformação do velho em um novo Bom Fim.

Ali também trabalharam algumas figuras que ficaram conhecidas de todos no bairro, como o Ilson, o Banana, o Índio, e por fim o Felipe, que esteve presente ao momento do fechamento do Bar. Todos, assim como o João e o Júlio deixaram a sua marca. Que fazem parte dessa história de forma incontestável.

Clientes como o Já Morreu, que agora é fiel freqüentador da Lancheria do Parque, o Paulinho Debatin, o Danilo e todo o pessoal do Bariri Futebol Clube que aos sábados joga pelada na cancha de areião na Redenção, todos, se somam a essa história. Do jogo de carteado, dos shows de rock – na era em que até um palco o bar teve - e que revelaram muitas bandas e músicos, dos churrascos cujos cheiros e fumaças se misturavam em uma área aberta localizada nos fundos do prédio...tudo, enfim é parte dessa rica história.

Em 2010, no período eleitoral, para a surpresa de muitos, o prédio do velho João foi temporariamente reaberto. Durante a reforma para que se tornasse um comitê político, muitos olhavam perplexos, alguns pediam para entrar, faziam excursões e indagavam se o bar reabriria. Foi um lampejo, um sonho, mas que não se realizaria. Vendido para uma incorporadora da construção civil, o seu fim era anunciado há muito tempo.

Agora, enfim, chegou o epílogo de uma era, de parte da história de pelo menos duas gerações que viveram intensamente o Bar João e as suas idiossincrasias. Ele, agora, deixa definitivamente o plano material para se perpetuar na imaginação e em registros como este, para que as novas gerações possam saber um pouco sobre um épico da universalidade. E com diria a canção...que saudades do Bar João...





terça-feira, 31 de maio de 2011

Joe Athanazio








José Luís Athanázio de Almeida nasceu em 26-10-1955, em Porto Alegre, e teve uma curta, porém invejável, carreira nos seus 33 anos de vida.

Começou profissionalmente nos anos 70, quando ficou conhecido como Zezinho Athanázio, tendo suas músicas rodadas na Rádio Continental.

Venceu o 6º Musipuc, com a música Equilíbrio, de sua autoria. No mesmo ano, 1977, Seis da Manhã, de Joe e Jerônimo Jardim – defendido por Joe –, ganhou o troféu de melhor

música na Califórnia da Canção, na linha de Projeção Folclórica.

Em 1978, participou da gravação do disco e da turnê do show de Ivan Lins, Nos Dias de Hoje, como vocalista e percussionista.

Em 1979, fez seu primeiro show em Porto Alegre, Estradas do Sul, acompanhado

pelos músicos Paulo Dorfman, Paulo Oliveira, Tênison Ramos e Paulino Soares. No mesmo ano, participou do Explode 80, superprodução reunindo todos os grandes nomes da nossa música, no Auditório Araújo Vianna.

Em 1980, apresentou o show Porto da Luz, divulgando sua rica parceria com Luiz de Miranda.

Em 1981, com Neuzinha Brizola, gravou o compacto Mintchura e mudou seu nome para Joe Eutanázia, um trocadilho com o seu sobrenome e uma forma de protesto, pois não

foi só o nome que mudou, Joe, que antes mostrava sua forte influência jazzística, rendeu-se ao rock e apimentou com o seu humor irreverente.

Já em 1982 e 1983, foram muitos os shows pelo Brasil. Gravou seu primeiro disco, um compacto simples com as músicas Mujer Ingrata, de Joe e Ronaldo Santos, e Tensão no

Rio, composta com Tavinho Paes. Esse disco teve a participação de Lobão, na bateria, e rendeu a Joe a gravação de um clipe super moderno e bem produzido, que veiculou no programa Fantástico.

Em 1984, o segundo compacto: Me Leva pra Casa – com parceria de Gastão Lamounier.

Em 1985, nova reviravolta, o Eutanázia foi definitivamente “limado” do nome e Joe gravou seu primeiro LP, contando com vários parceiros em músicas que, rapidamente, subiram

às paradas de sucesso e tornaram-se verdadeiros hits. Várias turnês pelo Brasil, inúmeros artistas gravando composições suas, entre eles Xuxa, Metrô, Léo Jaime, Sempre Livre, Roupa Nova e Luís Augusto.

Algumas de suas composições foram temas de novela, como Selva de Pedra, Ti ti ti, A Gata Comeu e Um Sonho a Mais, e de especiais da Globo, como Armação Ilimitada – o episódio Os Olhos de Zelda Scoth teve o tema homônimo Joe e Tavinho Paes e a participação especial de Joe. Foi convidado a participar da minissérie Os Lunáticos, na qual interpretou um dos personagens principais e também compôs a trilha sonora.

Joe também compôs para o cinema, para os filmes Rock Estrela e Sonhos de Verão.

Isso sem falar nas aparições em vários Globos de Ouro e Programas do Chacrinha.

Em 1987, Joe descobriu a ponte aérea Rio-New York e, em 1988, voltou para Porto

Alegre super bem equipado, com instrumentos e acessórios de última geração e, com a certeza

de que “Aqui é o melhor lugar do mundo. É a nossa terra, e é aqui que eu quero ficar até morrer...”

Iniciou as gravações do seu último disco. Até o final de 1989 se apresentou em

casas noturnas da Cidade e do interior do Estado; como principal atração em festas promovidas

por emissoras de rádio de sucesso da época, participou da festa da chegada do Papai Noel, no

Gigantinho, com a música Pergunte à Criança, dele e de Ronaldo Bastos, e terminou seu disco,

que não chegou a ser lançado.

Joe faleceu no dia 21 de dezembro de 1989, em um acidente de carro, em Porto Alegre. Esse cantor, compositor e guitarrista deixou, além da saudade dos seus familiares, amigos e fãs, uma extensa obra musical composta em parceria com Bebeto Alves, Luís de Miranda, Arnaldo Sisson, Wagner Guimarães, Nelson Motta, Toneco da Costa, Cazuza, Jorge Salomão e Ronaldo Bastos, para citar alguns. Entre suas músicas mais conhecidas estão Me Leva Pra Casa, Na Selva das Cidades, Johnny Love, Tudo Pode Mudar, Flash, Tem Sol Aqui e Cem Mil Dólares Mensais.


domingo, 13 de fevereiro de 2011



Lupicínio Rodrigues
 
Lupe, como era carinhosamente chamado, gaúcho de família humilde nasceu em Porto Alegre, em 19 de setembro em 1914, na Ilhota uma vila pobre do bairro Cidade Baixa. Lupicínio trabalhou desde cedo como mecânico de automóveis, mas sempre gostou de músicas de carnaval e da vida boêmia de Porto Alegre.

A música, entretanto, falou mais alto. Suas músicas remetiam geralmente aos temas “dor de cotovelo”, “amores fracassados” e “traídos”. Em 1932, quando já atuava como cantor, foi ouvido e muito elogiado por Noel Rosa. Quatro anos depois, veio a primeira gravação, pela RCA Victor, um compacto simples, com “Triste História” e “Pergunte a Meus Tamancos”, ambas em parceria com Alcides Gonçalves, que seria também, co-autor de outros sambas canções como “Castigo”, “Maria Rosa” e “Cadeira Vazia”.

Torcedor do Grêmio, comporia o hino do clube em 1952, quando com uma turma de amigos se dirigia de bonde para o estádio e faltou luz. De imediato, desceram do bonde e foram caminhando, daí a inspiração para a letra do hino “até a pé nos iremos”. Hoje sua foto está na galeria dos Gremistas Imortais, no salão nobre do clube.

O sucesso “Se acaso você chegasse” foi gravado pela primeira vez por Cyro Monteiro em 1938. A música ficou tão popular que Lupicínio foi para o Rio, onde conheceu Francisco Alves, que gravaria muitas de suas canções, como “Nervos de Aço” (1947) e a magistral “Esses Moços” (1948).

Num caso raro na Música Popular Brasileira, “Se Acaso Você Chegasse” foi regravada com estrondoso sucesso em 1959 por Elza Soares e lançou a cantora para o mercado.

“Vingança”, gravada por Linda Batista em 1951, foi grande sucesso. As regravações de Lupicínio foram numerosas, entre elas, Paulinho da Viola (Nervos de Aços), Caetano Veloso (Felicidade), Elis Regina (Cadeira Vazia), Zizi Possi (Nunca), Leny Andrade (Esses Moços), Gal Costa (Volta), são alguns exemplos.

Mas sem dúvida nenhuma, o mais importante intérprete foi Jamelão, que gravou dois discos inteiramente dedicados a sua obra em 1972 e 1987.

Lupicínio participou do V Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em 1969 com a música “Primavera”, defendida por Isaura Garcia.

A imagem de boêmio teve o contraponto do proprietário que foi de diversos bares, churrascarias e restaurantes com música, - que seguidamente ia abrindo e fechando -, como o Jardim da Saudade, o Clube dos Cozinheiros e o mais célebres de todos, o Batelão, que elevou o ponto turístico da cidade. Tudo para ter, antes do lucro, um lugar para encontro com os amigos.

Gabava-se de ser mais cozinheiro que compositor especializado no trivial caprichado, exemplo seguido pelo filho que hoje mantém o espaço temático em homenagem ao pai, Se Acaso Você Chagasse, na av. Venâncio Aires, em Porto Alegre.

Alma boa e caridosa manteve, em propriedade sua, um abrigo para desprotegidos da sorte, sem fazer nenhum alarde.

Sua rotina dividia-se entre a boemia e o lar, onde primava em ser um perfeito chefe de família. No seu casamento com D. Cerenita, reinava o amor, e seu samba “Exemplo”, é de profundo afeto: “Quando chego cansado/teus braços estão me esperando...” .

Deixou mais de 150 canções editadas, outras foram perdidas, esquecidas ou estão à espera de quem as resgate.

Temperamento calmo, pessoa modesta, meio desligado, passo lento, voz macia, Lupicínio parece não ver o tempo passar, ele sim, vai passando pelo tempo, indiferente, olhando a vida à sua moda.... Mas o tempo é implacável, cedo o veio buscar, ficando, porém a sua obra como legado para os que sentem que vale a pena amar demais, mesmo com todas as dores de cotovelo que vierem.

Enquanto houver paixão, Lupicínio viverá e será amado. Morreu em Porto Alegre, em 27 de agosto de 1974.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011


                                                        Carlos Nobre


O humorista mais popular do Rio Grande do Sul nasceu em Guaíba, em 07 de abril de 1929, AC, conforme ele definia Guaíba Antes do Cheiro, - “ de Guaíba me mandei para Porto Alegre, onde vivo por ser a cidade mais próxima. O que me facilitará enormemente quando me mandarem embora de volta às origens, ou para mais longe”. Sempre alegre, fez piadas por mais de 30 anos, seu ideal era apenas com o humor, - “meu compromisso é popular. Coisa que mais abomino é o humor metido a intelectual”.
Seu início no rádio, porém, não foi humorístico, mas sim, cantando serestas nos anos 50, no apogeu do rádio. Teve muito prestigio como cantor, sendo considerado um dos melhores cantores de Porto Alegre.
Boêmio, circulava pelos bares da capital, fazendo graça e conquistando amigos, surgindo daí sua inclinação para o humor. Hoje no Restaurante Copacabana existe uma sala em sua homenagem.
Como humorista no rádio, seu inicio foi em 1954 na rádio Gaúcha, através do programa Jogo Bruto. Após alguns anos, o programa teve seu nome trocado para Campeonato em Três Tempos, o que se tornaria posteriormente, o programa humorístico mais popular da história do rádio gaúcho. O tema do programa era o cenário esportivo do Rio Grande do Sul. Para tal, criou figuras antológicas, como “Miss Copa”, “Colorado” e “Greminho”, sendo este último interpretado por ele. Na verdade, o programa se caracterizava por ser de rádio teatro, pois além de entrar no ar pela emissora, era apresentado ao vivo no teatro sempre lotado. Para se ter uma idéia da repercussão da época, o programa chegou a atingir 96% de audiência, índice este, jamais alcançado, por qualquer rádio do Brasil.
Com os ingredientes de humor e futebol, o fenômeno foi crescendo cada vez mais. Carlos Nobre, chegou a escrever e interpretar nove programas por semana. Com todo o sucesso, como não poderia ser diferente, passou a escrever em jornais, fazendo a coluna Muro das Lamentações no jornal “A Hora”, com ilustrações de Sampaulo. Em 1962, passou a escrever em a Última Hora e, em 1964, na Zero Hora. Em 1968, chegava ao fim o programa de rádio mais reconhecido no Rio Grande do Sul cuja fama o levara ao centro do país. Relutou muito antes de ir e, por lá, permaneceu por apenas quatro meses. Trabalhou na TV Excelsior de São Paulo onde apresentou o ”Humor 62” - dirigido por Procópio Ferreira - e “Times Square” na TV Excelsior do Rio de Janeiro. A saudade de Porto Alegre, de seus amigos e do Copacabana era tão grande que não resistiu por mais de quatro meses. Para amenizar a falta da capital gaúcha neste período, chegou a vir de avião para Porto Alegre, comprar churrasco e voltar para saborear em São Paulo.
Gostava de contar que tanto Chico Anísio com Juca Chaves, seus amigos, não entendiam como insistia em ficar em Porto Alegre, podendo ser sucesso nacional. Retornou para trabalhar na empresa Caldas Júnior, no jornal Folha da Tarde, e, em 1975, para a Rádio Gaúcha e Jornal Zero Hora.
O hábito do gaúcho de ler jornal de trás para frente, deve-se a ele, ou melhor, a sua coluna que era escrita na última página.
Publicou dois livros, e em 1982, teve seu amor a Porto Alegre, retribuído com o título de Cidadão Emérito da cidade, homenagem da Câmara Municipal.
Em sua última coluna publicada no jornal Zero Hora do dia 17 de dezembro de 1985, sempre mantendo sua característica de piadas curtas e incisivas, deixou coisas tais como “ O bom do fim de semana fora é que a gente volta para a casa – para descansar” ou uma que continua muito atual em nossos dias, “ Ontem os mendigos estendiam a mão. Hoje estendem um revólver”.
Também deixou pronto seu próprio epitáfio, após sofrer um infarte, “ Eis aqui uma gargalhada cercada de choro por todos os lados”

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010



Ao Belchior


Ao Belchior, significa oriques em Portugal, a mesma coisa que briqueiro, hoje espalhados, e dando um charme especial, pela cidade, cidade esta que Joaquim da Cunha, apaixonou-se, e aqui viveu sua vida.

Joaquim da Cunha nasceu em Portugal, na localidade de Marmeleira do Botão, veio para o Brasil para morar em São Paulo, onde trabalhou por dezeseis anos, sempre ligado ao comercio. Em 1927, resolveu conhecer Montevidéu, saiu de São Paulo num Ford Bigode, no retorno parou para descansar em Porto Alegre, nunca mais saiu, foi um verdadeiro caso de amor.

Instalou-se na famosa Pensão da Dona Maria, na Rua da Praia, com as economias passou a empenhar objetos, criando desta maneira seu primeiro negócio aqui. O Primeiro objeto empenhado foi uma sombrinha de seda, como a maioria dos donos não iam buscar os objetos empenhados, foi acumulando de tudo em seu quarto.

Daí para abrir uma loja foi tudo muito rápido, seu primeiro endereço e o mais tradicional foi na Rua da Praia, nas redondezas dos cinemas Cacique e Scala.

Vendia de tudo, e era um dos pontos mais tradicionais e conhecidos de Porto Alegre, foi pioneiro neste ramo que deu origem a tantos expositores do brique da Redenção, muitos começaram adquirindo as mercadorias no Ao Belchior. Ajudou na criação do Brique da Redenção, só não quis participar, por ser domingo seu único dia de descanso.

Foi inovador também em outro negócio, junto ao brique funcionava uma lavanderia com mais de 80 funcionários, alguns meninos faziam a coleta a domicilio das roupas, mas seu ineditismo foi o atendimento de urgência, lavagem e secagem em duas horas, o cliente entrava numa pequena cabine, tirava as roupas e ficava ali lendo revistas.

Mas o sucesso mesmo foi o brique, famoso numa Porto Alegre distante e romântica, foi atrás do balcão que espalhou simpatia e histórias, ligados a todo o tipo de produtos e raridades.

Sua loja serviu, também para receber muitas personalidades e gente famosa, principalmente do Teatro que iam em busca de roupas para suas peças, entre elas podemos citar Orlando Silva e Carmen Miranda, outro freqüentar habitual era Charles Newman, irmão de Paul Newman, Charles morou quase dois anos em Porto Alegre.

Ao Belchior foi criado em 1933 para fazer parte da história de Porto Alegre e, sobretudo para dar origem, ao que Porto Alegre tem de mais famoso nos dias de hoje o Brique da Redenção.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Nei Lisboa


Nei Lisboa - O Poeta do Gueto

Previamente conhecido como poeta do gueto, sendo tal reduto o famoso bairro Bom Fim, em Porto Alegre, não existe artista mais identificado com este lugar, como Nei Lisboa.

Idolatrado no Rio Grande do Sul, conhecido no Brasil, mantém um público extremamente fiel na capital gaúcha.

Nascido em Caxias do Sul, veio para Porto Alegre, em 1965 sua identificação com a cidade foi rápida. Recebeu forte influência de um personagem muito importante, seu irmão, Luis Erico - ou Ico- cujo idealismo político foi bastante forte devido à ditadura militar acabou por atuar em organizações de esquerdas, até se tornar clandestino, e posteriormente assassinado pelos órgãos da repressão militar. Foi seu irmão que o alfabetizou e deu toda uma teoria, de esquerda logicamente.

Já aos 16 anos, Nei vai para os Estados Unidos, naqueles programas de intercâmbio estudantil, e passa nesse momento a se dedicar ao violão, compondo sua primeira música, retornado ao Brasil com um inglês perfeito. Após, começa a mostrar suas qualidades na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em rodas de som entre amigos. Também, tornou-se freqüentador assíduo da esquina maldita, já que morava no Bom Fim e a faculdade era em frente.

Estreou nos palcos, no Clube de Cultura, em um show chamado Lado a Lado com Augustinho Lincks e Gelson Oliveira, um time forte. Mas sem dúvida nenhuma o grande show dessa época foi Deu prá ti, nos anos 70, o que originou a gíria porto alegrense Deu Prá ti, bem como o clássico do cinema gaúcho de mesmo nome, rodado em super 8. E quem não se lembra da canção de Kleiton e Kledir, “deu prá ti, baixo astral, vou prá Porto Alegre, tchau”?

O show que ficou apenas um final de semana no Renascença é emblemático na carreira de Nei. Foi anunciado durante muito tempo por pichações nos muros da cidade, “deu prá ti, anos 70”. A idéia era mesmo de - basta, final, terminou, acabou, - aqueles de repressão. A partir do espetáculo, seu público começa a crescer e a ultrapassar a barreira do circuito universitário, que era até então o que alcançava.

Em 1980, sua música Prá Viajar no Cosmo Não Precisa Gasolina, alcança o segundo lugar no festival de música da PUC, o badalado Musipuc, e suas músicas começam a tocar na rádio Bandeirante de Porto Alegre, futura Ipanema.

Em 1982 se apresenta no Cio da Terra, em Caxias do Sul, festival de música onde foram reunidas cerca de 20.000 pessoas e mantém contato com músicos de outras partes do país.

No ano de 1983, seu primeiro disco, o LP, Prá Viajar no Cosmos Não Precisa Gasolina foi independente. No ano seguinte através da gravadora Acit lança seu segundo disco Noves Fora e, mais tarde, em 1992, a mesma gravadora lança o CD Eu Visito Estrela, que faz uma compilação dos dois discos lançados.

Chega o ano de 1986, Nei assina contrato com a poderosa EMI-Odeon, no ano seguinte lança Carecas da Jamaica e recebe o prêmio Sharp de revelação. Lança, ainda, Hein em 1988. Esses dois últimos discos foram relançados em CD em 1999.

Em 1993, grava ao vivo no Teatro São Pedro, o disco Amém, primeiro trabalho que foi lançado em LP e CD, pela Som Livre.

Somente em 1998 volta às gravações, após dar um tempo para se dedicar prioritariamente a incursões pela informática, outra paixão além, da música e literatura. Nesse ano, Hi-Fi alcança sucesso, com clássicos que permearam sua juventude, todos em Inglês que foram gravados ao vivo no Teatro São Pedro. Em 2001, lança Cena Beatnik, gravado em estúdio depois de longo tempo, pelo selo Antídoto da Acit.

No ano seguinte ocorre uma grande homenagem: é lançado o CD baladas do Bom Fim pela Orbeat, onde quatorze bandas gravam músicas de Nei Lisboa. Ainda pela Antídoto, em 2003, ocorre o lançamento de Relógios do Sol, e em 2006 de forma independente lança outro álbum: Translúcido, com músicas compostas no computador.

Além disso, Nei também é escritor além de vários artigos publicados tem dois livros lançados: “Um morto Pula a Janela” - pela Artes e Ofícios de 1991 - com relançamento em 2000 pela Editora Sulina. Esse livro foi traduzido para o francês também em 2000, e, sobre o livro Luis Fernando Veríssimo escreveu “A surpresa não é que Nei fez um livro diferente e inventivo como a sua música, e brincou com a linguagem e nos intrigou e nos fez dar risadas. A surpresa é que saiu e voltou no seu romance com a segurança de um velho marinheiro. Também foi denso e engenhoso, como um veterano com sal na barba. Este primeiro livro é tudo que se esperava do Nei Lisboa e o que ninguém podia esperar.” O outro livro, “É Foch!”, - Pela LPM - é uma seleção de textos publicados ao longo de oito anos na imprensa gaúcha, lançado em 2007.

Nei também teve várias músicas suas que serviram de temas em filmes. Caetano Veloso, ouviu, gostou e gravou “Pra te lembrar” que foi trilha em “Meu tio matou m cara” de Jorge Furtado.

No ano de 2006, a cantora carioca Simone Capeto lançou o álbum “Bom Futuro”, interpretando apenas canções de Nei Lisboa.

Sem dúvida, é uma grande história! Isso que Nei praticamente se recusou a ser sucesso nacional quando em 1986, com contrato assinado pela Emi-Odeon, esta queria transformar Nei em sucesso nacional. A idéia era que gravasse uma versão de Hey Jude dos Beatles, para a novela Top Model, sucesso garantido. Infelizmente, Nei não passava um bom momento inclusive com sérios problemas pessoais. A versão prometida seria feita por ninguém menos que Ronaldo Bastos, parceiro de Milton Nascimento. acontece que chegando para as gravações a versão apresentada era de Rossini Pinto, ele não agüentou, e em resumo, Kiko Zambianchi, aceitou e foi sucesso nacional. Ainda nessa época, após uma crítica contra seu trabalho, o jornalista da Folha de São Paulo, André Forastieri recebeu de presente de Nei um pacote de bonzo, comida para cachorros.

Abaixo a letra de Berlim Bom Fim de Nei Lisboa e Hique Gomes, do disco Carecas da Jamaica de 1987, onde critica a invasão da força militar no Bar Ocidente.

Já vejo casas ocupadas
As portas desenhadas
No vergonhoso Muro da Mauá
Os velhos nos cafés
O bar João em plena Keithstrasse
A saga violenta deste parque
O cinza da cidade
Partido Verde ao meio
Cheiros peculiares ao recheio
De um bolo de concreto
Repleto de chucrute e rock’em’roll
E depois da meia noite
A fauna ensandecida do Ocidente
Digitando em frente ao Metropol
Berlim, Bom Fim, Berlim Bom Fim.