domingo, 13 de fevereiro de 2011



Lupicínio Rodrigues
 
Lupe, como era carinhosamente chamado, gaúcho de família humilde nasceu em Porto Alegre, em 19 de setembro em 1914, na Ilhota uma vila pobre do bairro Cidade Baixa. Lupicínio trabalhou desde cedo como mecânico de automóveis, mas sempre gostou de músicas de carnaval e da vida boêmia de Porto Alegre.

A música, entretanto, falou mais alto. Suas músicas remetiam geralmente aos temas “dor de cotovelo”, “amores fracassados” e “traídos”. Em 1932, quando já atuava como cantor, foi ouvido e muito elogiado por Noel Rosa. Quatro anos depois, veio a primeira gravação, pela RCA Victor, um compacto simples, com “Triste História” e “Pergunte a Meus Tamancos”, ambas em parceria com Alcides Gonçalves, que seria também, co-autor de outros sambas canções como “Castigo”, “Maria Rosa” e “Cadeira Vazia”.

Torcedor do Grêmio, comporia o hino do clube em 1952, quando com uma turma de amigos se dirigia de bonde para o estádio e faltou luz. De imediato, desceram do bonde e foram caminhando, daí a inspiração para a letra do hino “até a pé nos iremos”. Hoje sua foto está na galeria dos Gremistas Imortais, no salão nobre do clube.

O sucesso “Se acaso você chegasse” foi gravado pela primeira vez por Cyro Monteiro em 1938. A música ficou tão popular que Lupicínio foi para o Rio, onde conheceu Francisco Alves, que gravaria muitas de suas canções, como “Nervos de Aço” (1947) e a magistral “Esses Moços” (1948).

Num caso raro na Música Popular Brasileira, “Se Acaso Você Chegasse” foi regravada com estrondoso sucesso em 1959 por Elza Soares e lançou a cantora para o mercado.

“Vingança”, gravada por Linda Batista em 1951, foi grande sucesso. As regravações de Lupicínio foram numerosas, entre elas, Paulinho da Viola (Nervos de Aços), Caetano Veloso (Felicidade), Elis Regina (Cadeira Vazia), Zizi Possi (Nunca), Leny Andrade (Esses Moços), Gal Costa (Volta), são alguns exemplos.

Mas sem dúvida nenhuma, o mais importante intérprete foi Jamelão, que gravou dois discos inteiramente dedicados a sua obra em 1972 e 1987.

Lupicínio participou do V Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em 1969 com a música “Primavera”, defendida por Isaura Garcia.

A imagem de boêmio teve o contraponto do proprietário que foi de diversos bares, churrascarias e restaurantes com música, - que seguidamente ia abrindo e fechando -, como o Jardim da Saudade, o Clube dos Cozinheiros e o mais célebres de todos, o Batelão, que elevou o ponto turístico da cidade. Tudo para ter, antes do lucro, um lugar para encontro com os amigos.

Gabava-se de ser mais cozinheiro que compositor especializado no trivial caprichado, exemplo seguido pelo filho que hoje mantém o espaço temático em homenagem ao pai, Se Acaso Você Chagasse, na av. Venâncio Aires, em Porto Alegre.

Alma boa e caridosa manteve, em propriedade sua, um abrigo para desprotegidos da sorte, sem fazer nenhum alarde.

Sua rotina dividia-se entre a boemia e o lar, onde primava em ser um perfeito chefe de família. No seu casamento com D. Cerenita, reinava o amor, e seu samba “Exemplo”, é de profundo afeto: “Quando chego cansado/teus braços estão me esperando...” .

Deixou mais de 150 canções editadas, outras foram perdidas, esquecidas ou estão à espera de quem as resgate.

Temperamento calmo, pessoa modesta, meio desligado, passo lento, voz macia, Lupicínio parece não ver o tempo passar, ele sim, vai passando pelo tempo, indiferente, olhando a vida à sua moda.... Mas o tempo é implacável, cedo o veio buscar, ficando, porém a sua obra como legado para os que sentem que vale a pena amar demais, mesmo com todas as dores de cotovelo que vierem.

Enquanto houver paixão, Lupicínio viverá e será amado. Morreu em Porto Alegre, em 27 de agosto de 1974.

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