Décio
Freitas
(Ele
revirava o passado procurando soluções para o Brasil – Luis
Augusto Fischer)
Gaúcho
da cidade de Encantado nascido em 06 de setembro de 1922, Décio
Bergamaschi Freitas se mudou para Porto Alegre para estudar no
Colégio Rosário.
Formou-se
em Direito pela Universidade do Rio Grande do Sul, onde iniciou
intensa militância política no Partido Comunista Brasileiro e o
trabalho na imprensa.
Décio
é, sem dúvida nenhuma, o responsável por um organizado movimento
negro no Brasil, e se hoje o tema do racismo é recorrente, boa
parte do crédito pode ser dado ao historiador gaúcho.
Pesquisador
da cultura negra, pioneiro na sistematização de Zumbi dos
Palmares.
Seu livro de 1971, Palmares, a Guerrilha Negra, começou a ser escrito quando ele ainda cumpria exílio no Uruguai após o golpe militar, nele Décio recupera a luta contra a escravidão em Palmares é nele que apresenta dados e informações que mudaram a forma de encarar a resistência do Quilombo dos Palmares, como a maior insurreição escrava da América Latina, e onde o autor comprova a existência do herói Zumbi dos Palmares. Sua obra provocou transformações reais e não apenas intelectuais.
Seu livro de 1971, Palmares, a Guerrilha Negra, começou a ser escrito quando ele ainda cumpria exílio no Uruguai após o golpe militar, nele Décio recupera a luta contra a escravidão em Palmares é nele que apresenta dados e informações que mudaram a forma de encarar a resistência do Quilombo dos Palmares, como a maior insurreição escrava da América Latina, e onde o autor comprova a existência do herói Zumbi dos Palmares. Sua obra provocou transformações reais e não apenas intelectuais.
Em
sua vida mesclou história e jornalismo em seu tipo de escrita.
O
faro de jornalista ele adquiriu na década de 40, quando foi repórter
do Correio do Povo e do Diário de Notícias - escreveu artigos
também para a revista Continente de São Pedro. Com Dyonélio
Machado, fundou a Tribuna Gaúcha, primeiro diário gaúcho de
esquerda. Entrevistou figuras como Getúlio Vargas, Borges de
Medeiros e Flores da Cunha. Com o primeiro, passou longos dias e
noites conversando nas fazendas de Santos Reis e Itu, em 1946. A cada
manhã, Décio transcrevia os diálogos para que o ex-presidente
corrigisse eventuais equívocos com o próprio punho. Tinha planos de
publicar um livro reunindo as entrevistas, com o título de
Conversações com Getúlio Vargas, mas não teve tempo para isso.
"Os intelectuais gaúchos não produzem reflexões sobre o
Brasil. 0 sentimento separatista e o irredentismo agem no Rio Grande
do Sul, inconscientemente e incontestadamente" DÉCIO FREITAS,
NA APLAUSO 2 (1998) .
No
tradicional almoço das quintas-feiras, no restaurante Copacabana,
costumava deliciar os amigos com histórias que oscilavam entre o
patético, o melodramático, o grotesco e o sublime. "A versão
de uma história não era exatamente a mesma um ano mais tarde. A
maior parte era proibida para menores", conta Gonzaga. Como a do
homem com dois pênis, que Décio relatou, certa vez, ao cineasta
Cacá Diegues, de quem foi consultor no filme Quilombo, em
1984.Exímio dançarino, gabava-se de ter aprendido
tango com as amigas dos prostíbulos. "Décio
dominava todas as manhas da sedução anteriores à revolução dos
costumes dos anos 60. Ante a presença feminina, sua voz se adoçava
e se alongava como um veludo. Neste ponto, era inexcedível",
diz Gonzaga. (www.paginadogaucho.com.br).
Décio
mantinha uma coluna no jornal Zero Hora, morreu no dia 09 de março
de 2004 aos 81 anos de idade, deixando quatro artigos prontos, no
dia 07, Zero Hora publicou “Esqueleto no Armário ? ”
Reproduzido na integra abaixo, logo após segue a lista de seus
livros publicados.
Esqueleto
no Armário
Primeiro
houve a morte de Juscelino Kubitscheck. Na tarde de 22 de agosto de
1976, o ex-presidente viaja de automóvel para o Rio. Na altura do km
143 da BR Rio/São Paulo, seu Opala se choca com uma carreta. O
ex-presidente e seu motorista têm morte instantânea. Curioso: 15
dias antes, 7 de agosto, correra nos meios políticos e jornalísticos
o boato de que Juscelino morrera em acidente de carro, em viagem de
sua fazenda em Luizânia para Brasília. Ele planejara a viagem, mas
desistira à última hora.
Quatro meses depois, a morte de João Goulart. Em 6 de dezembro o ex-presidente acha-se em sua estância de La Villa, em Mercedes, fronteira com o Brasil. A certa hora da noite vai dormir. Pelas três da madrugada, a esposa Maria Teresa ouve forte estertor do marido. Ele não responde e constata-se que está morto. Por enfarte, diz-se. O ex-presidente era de fato cardíaco, mas o problema achava-se sob controle. Pouco antes, viajara à França para exames e medicava-se regularmente. Causa-mortis: enfermedad, reza vagamente o atestado de óbito. O governo militar argentino libera o corpo para ser enterrado no Brasil, dispensando a autópsia, obrigatória em tais circunstâncias.
Segue-se, finalmente, a morte do ex-governador do Rio de Janeiro Carlos Lacerda. Em 21 de maio de 1977, ele apresenta sintomas que parecem ser de forte gripe. Internado na Clínica São Vicente, morre inesperadamente durante a noite, sem um diagnóstico preciso. Surgirá depois uma suspeita de septicemia, cuja origem nunca se explicou.
As três mortes ocorrem num período de nove meses. Àquela altura, os três políticos eram inimigos jurados do regime militar. Quando governador do Rio, Lacerda fora o furioso mentor do golpe. Deflagrado este, Juscelino apressou-se a apoiá-lo. Logo ambos viram-se vítimas da política de Saturno: o regime cassou-lhes os direitos políticos. Então, em 1967, os três párias políticos resolveram unir-se contra o regime, formando a Frente Ampla. O encontro entre Jango e Lacerda, em Montevidéu, em setembro de 1967, tinhja tudo de inverossímil. Lacerda levara Getúlio ao suicídio e Jango ao exílio. Na nota expedida ao fim do encontro, justificaram a união pela "necessidade inadiável de promover o processo de redemocratização". Na nota, Jango reafirma o que sempre sustentara: "interesses dos trabalhadores", extinção das "instituições arcaicas", "nacionalismo econômico", "desenvolvimento com justiça social". Lacerda vazia radical volte-face, subscrevendo tudo que sempre denunciara como subversivo. Na nota, Jango rompia politicamente com o cunhado Leonel Brizola, que preconizava a derrubada violenta do regime.
Quatro meses depois, a morte de João Goulart. Em 6 de dezembro o ex-presidente acha-se em sua estância de La Villa, em Mercedes, fronteira com o Brasil. A certa hora da noite vai dormir. Pelas três da madrugada, a esposa Maria Teresa ouve forte estertor do marido. Ele não responde e constata-se que está morto. Por enfarte, diz-se. O ex-presidente era de fato cardíaco, mas o problema achava-se sob controle. Pouco antes, viajara à França para exames e medicava-se regularmente. Causa-mortis: enfermedad, reza vagamente o atestado de óbito. O governo militar argentino libera o corpo para ser enterrado no Brasil, dispensando a autópsia, obrigatória em tais circunstâncias.
Segue-se, finalmente, a morte do ex-governador do Rio de Janeiro Carlos Lacerda. Em 21 de maio de 1977, ele apresenta sintomas que parecem ser de forte gripe. Internado na Clínica São Vicente, morre inesperadamente durante a noite, sem um diagnóstico preciso. Surgirá depois uma suspeita de septicemia, cuja origem nunca se explicou.
As três mortes ocorrem num período de nove meses. Àquela altura, os três políticos eram inimigos jurados do regime militar. Quando governador do Rio, Lacerda fora o furioso mentor do golpe. Deflagrado este, Juscelino apressou-se a apoiá-lo. Logo ambos viram-se vítimas da política de Saturno: o regime cassou-lhes os direitos políticos. Então, em 1967, os três párias políticos resolveram unir-se contra o regime, formando a Frente Ampla. O encontro entre Jango e Lacerda, em Montevidéu, em setembro de 1967, tinhja tudo de inverossímil. Lacerda levara Getúlio ao suicídio e Jango ao exílio. Na nota expedida ao fim do encontro, justificaram a união pela "necessidade inadiável de promover o processo de redemocratização". Na nota, Jango reafirma o que sempre sustentara: "interesses dos trabalhadores", extinção das "instituições arcaicas", "nacionalismo econômico", "desenvolvimento com justiça social". Lacerda vazia radical volte-face, subscrevendo tudo que sempre denunciara como subversivo. Na nota, Jango rompia politicamente com o cunhado Leonel Brizola, que preconizava a derrubada violenta do regime.
Suspeitou-se
de imediato da causa da morte dos três líderes da Frente Ampla. Não
teria sido acidental ou natural, mas frio assassinato a mando do
regime. Redemocratizado o país, houve investigações por duas
comissões da Câmara dos Deputados: uma sobre a morte de Juscelino,
outra sobre a de Jango. Ambas inconclusivas: havia de fato "um
somatório de dúvidas", mas só futuros "fatos novos"
podiam esclarecer. Reforçando a teoria conspirativa, Miguel Arraes
declarou em depoimento que Jango fora de fato "assassinado".
O
recente livro O Beijo da
Morte, de Carlos Heitor
Cony e Anna Lee, é um thriller que mistura realidade e ficção,
espicaçando velhas dúvidas sobre as mortes dos três políticos.
Suscita a hipótese de assassinato pela Operação Condor, de
existência tão falada e há pouco comprovada por documentos do
governo americano. Os regimes militares davam sinais de esgotamento e
os EUA já cogitavam de encerrá-los. O candidato democrata Jimmy
Carter anunciava isso e depois o pôs em prática, quando presidente.
Antecipando-se, as ditaduras da Argentina, do Brasil e do Uruguai
visariam, pela Operação Condor, a eliminar as lideranças civis
mais perigosas a transições sem riscos.
Admitem
os autores não ter provas, apenas "indícios". E talvez a
palavra final sobre o mistério das três mortes "nunca seja
possível". O poder costuma trancar seus esqueletos em armários
à prova de inquirições históricas.
Publicações:
- Palmares - La Guerrilha Negra, Montevidéu, Nuestra América, 1971.
- Palmares - A Guerra dos Escravos, Porto Alegre, Movimento, 1971.
- Insurresições Escravas, Porto ALegre, Movimento, 1975.
- Escravos e Senhores-de-Escravos, Porto Alegre, Escola Superior São Lourenço de Brindes/UCS, 1977.
- Cabanos - Os Guerrilheiros do Imperador, Rio de Janeiro, Graal, 1978.
- O Escravismo Brasileiro, Porto Alegre, Escola Superior São Lourenço de Brindes/Vozes, 1980.
- O Capitalismo Pastoril, Porto Alegre, Escola Superior São Lourenço de Brindes, 1980.
- Escravidão de Índios e Negros no Brasil, Porto Alegre, Escola Superior São Lourenço de Brindes/UCS, 1980.
- O Socialismo Missioneiro, Porto Alegre, Movimento, 1982.
- A Revolução dos Malês, Porto Alegre, Movimento, 1985.
- Brasil Inconcluso, Porto Alegre, Escola Superior São Lourenço de Brindes, 1986.
- A Comédia Brasileira, Porto Alegre, Sulina, 1994.
- O Homem que Inventou a Ditadura no Brasil, Porto Alegre, Sulina, 1999.
- O Maior Crime da Terra, Porto Alegre, Sulina, 1996.
- República de Palmares: pesquisa e comentários em documentos históricos do século XVII, Edufal, 2004.
- A Miserável Revolução das Classes Infames, Rio de Janeiro, Record, 2005.
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