domingo, 31 de outubro de 2010

Vicente Rao

       

  


Um Reinado de Alegria

Primeiro Rei Momo oficial de Porto Alegre, reinou durante 22 anos, precisamente entre 1950 a 1972, jogador na década de 20, acabou sendo inscrito na história do Sport Club Internacional por ser um insuperável animador de torcida, criou a primeira escolinha de futebol, assim como a primeira torcida organizada “Camisa 12” no grande time do Internacional conhecido por rolo compressor nos anos 40/50, expressão também criada por Vicente Rao que fazia desenhos dos jogadores e do time todo e logo após os amassava, a partir deste momento que ele teve a ideia do rolo amassando todos os seus adversários, também é creditado a ele o surgimento de grandes bandeiras os estádios de futebol do Rio Grande do Sul, assim como foguetes e serpentinas. Nasceu no dia 04 de abril data de aniversário de seu clube do coração, por isso dizia que não tinha nascido e sim inaugurado.
Vicente Rao, morreu em Porto Alegre, em 1973, aos 62 aos de idade, foi considerado o maior dos foliões de todos os tempos, foi bancário como profissão e como tal, chegou a líder sindical por mais de trinta anos, chegando a ser acusado de comunista e também a incitação à violência a greve e a agitação, isso nos 70 em plena ditadura militar, foi julgado e absolvido o que evidentemente gerou uma grande festa organizada pelos amigos, um carnaval fora de época.
Em sua vida também ficou muito conhecido como papai noel e coelhinho da páscoa, estava envolvido em praticamente todas as atividades da cidade, mas sem dúvida nenhuma brilhou como Rei Momo esbanjando alegria.
Antes de 1960, não existia Rei Momo, Rainha, Princesas no carnaval, cada bloco tinha a sua própria ‘Realeza”. Em Porto Alegre na década de 30, o rei momo era um boneco que representava a figura do fanfarrão, que não trabalhava e vivia para festas. O boneco virou símbolo dos desfiles até virar gente. Anos depois surgiram os Reis Momos, Lelé e Macalé que animavam os carnavais nos bairros da cidade.
Mas o maior Rei Momo de todos os tempos na capital foi Vicente Rao, o personagem da folia, o maior mito do carnaval de Porto Alegre.
Pesava cerca de 100 quilos e era considerado o primeiro e único, era comandante do bloco “Tira o dedo do pudim” nas festas do Arrial da Baronesa e nos desfiles do carnaval na descida da Borges.

Ó meu amor
Não faz assim
Eu sou o bloco
Tira o Dedo do Pudim!

Perto do carnaval publicava na Folha da Tarde, comunicados no estilo militar sempre assinados como Vi100-Rao.
Vicente Rao foi um soberano cheio de alegria e um magnetismo pessoal que era difícil de encontrar, símbolo de uma época de Porto Alegre boêmia e tranqüila.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Gilda Marinho



Recepção no hotel Plaza São Rafael,  Gilda Marinho em pé


Nascida em Pelotas, no ano de 1900, esta porto-alegrense de coração, fez história na em nossa cidade, sobretudo na área cultural, foi jornalista, uma das primeiras mulheres a trabalhar na imprensa gaúcha, tradutora, professora de Artes da UFRGS, mas, sem dúvida alguma seu sucesso maior foi como colunista social.

Sempre transbordando em alegria, quebrou regras, como quando consegui ser admitida na confraria gastronômica Le Bom Gourmet, que até então era exclusiva para homens, Gilda foi a exceção, foi uma mulher de vanguarda, considerada muito adiantada para a época em que viveu, conforme seu amigo pessoal Roberto Gigante, “ Gilda foi a primeira em tudo, a pintar o cabelo, a dirigir carros e até a fumar”. Agitadora se dizia comunista, se vestia de modo extravagante, grandes óculos, sapatos coloridos, era uma festa só, transitava com naturalidade nos vários setores da sociedade, morava no edifício Clube do Comércio, nas décadas de 50 e 60 que era considerado sinônimo de “status”, e só “Gente Fina” morava ali, protagonista de inúmeras histórias engraçadas, elegemos uma retirada do livro Os anos Dourados na Praça da Alfandega de José Rafel Rosito Coiro, o autor relata a paixão de Gilda por jogos de cartas, naquela época, os figurões políticos e os milionários jogavam no Clube do Comércio, Gilda Marinha passava horas jogando, e devido a sua fama tinha uma prerrogativa, ela descia de seu apartamento no sétimo andar, até o primeiro e dali através de uma porta, chegava as salas de jogo, isto é, não passava na portaria, nem precisava sair a rua para jogar, fez isso por 15 anos, num determinado momento foi criado uma portaria no clube na qual ficava terminantemente proibida que fossem servidas refeições nas mesas de jogos, imaginem o que significava para os jogadores esta Lei, já que quando estavam jogando não se levantavam para nada, Mas Gilda com sua tradicional irreverência numa longa noite de jogos, solicitou um filé mal passado e aspargos na manteiga, o garçom, conforme determinação relutou em atender mas acabou vencido, temeroso por se tratar de Gilda Marinho, sem antes ter que ouvir diversos impropérios sobre o Presidente, quando o presidente do clube soube, ficou uma “fera” convocou uma reunião extra urgente e por unanimidade a resolução foi suspender Gilda Marinho por trinta dias, de imediato a ordem foi para a secretária do clube, porém não encontraram a ficha de sócia, conclusão, Gilda jamais tinha sido sócia do Clube, nova reunião de diretoria, então um dos conselheiros fez a defesa de Gilda Marinho, onde chamou a atenção para o fato dela ser uma pessoa muito particular, e que Gilda fazia parte do Clube de seu folclore, e que o Clube devia muito mais a ela, do que o ela Clube e que tinha sido ela, como profissional de imprensa que mais tinha promovido o Clube, após a Diretoria, novamente por unanimidade resolveu conceder um título de sócia, ela ao receber o referido título disse “que era sócia do clube a mais de dez anos, pois fiz usucapião do título de sócia”. Hoje no Clube existe a Sala de Jogos Gilda Marinho.

Literatura sobre Gilda Marinho pode ser encontrado em “A vaca nua” de Eduardo Krause e “Memórias Alinhavadas” de Rui Spohr.

Gilda morreu em Porto Alegre, em 1984, sem antes porém de passar batom e espalhar perfume no quarto em que estava internada.

domingo, 17 de outubro de 2010

Oddone Greco


Circuito do Parque Farroupilha, 1953, Oddone Greco tirou último lugar na prova.



Entre os vários personagens da cidade o com maior senso de humor com certeza foi Greco, grande gozador, brincalhão e espirituoso que agitava a Rua da Praia nos bons tempos, aqueles em que ainda existia disposição para se pregar peças e trotes, hoje não se brinca mais nem no primeiro de abril, em fim, mas isto é outro assunto, Greco tinha um vasto circulo de amigos, provavelmente devido a sua simpatia.

Suas peças se passaram por volta dos anos 40, tantas foram e algumas entraram para o folclore de Porto Alegre, especialmente quando “roubou” um bonde da Companhia Carris, para dar uma voltinha, para desespero do motorneiro e cobrador que tomavam café tranqüilamente no fim da linha, ou nas madrugadas de sábados na garagem da Carris na João Pessoa, ficava horas esperando a oportunidade, uma distração de algum motorneiro e pronto, saia ele e o bonde pela Sarmento Leite, para abandonar após e sair em disparada pelas ruas para o delírio de seus amigos.

Foram tantas que não dá para relatar neste espaço, mas no Melhor do Anedotário da Rua da Praia, de Renato Maciel de Sá Jr, outro grande personagem de Porto Alegre, está recheado das peças de Oddone Greco, vale a pena ler.

Era de família abastada, de origem italiana, tinham grandes propriedades na cidade assim como alguns cinemas, morava num grande palacete na Avenida Independência, quase nunca trabalhou, vivendo de mesada ou colocando no prego ou vendendo um e outro bem da família ou mesmo presente, uma da vezes que ficou noivo ganhou um belo relógio de ouro de sua amada, no outro dia, empenhou na Caixa Econômica Federal, para espanto geral, vendeu o motor de um possante Fiat de seu pai, S. Januário, o carro ficara parado na Garagem devido a escassez de gasolina oriunda da Guerra, passado algum tempo o pai chamou um mecânico para examinar a preciosidade, estava em boas condições, somente com a falta do motor. Entre suas vendas podemos destacar uma arma de seu pai, que lhe entregou em uma discussão, uma cama de casal da residência em Torres, quando veraneava sozinho. Já nos meses de junho e julho seus familiares iam passar o inverno no Rio de Janeiro, aí ficaram famosas as festas na mansão na Independência e era nessa época, que com os elevados gastos, que entrava em cena seu lado comerciante. Numa destas ocasiões escreveu para seus pais pedindo mais dinheiro, como houve resistência, ameaçou vender o piano da residência, obviamente foi atendido. Tocava bem piano e praticamente não bebia, seu vicio era o jogo.

Passava inúmeros trotes no Tucha, famoso cabeleireiro ou barbeiro no Royal Salon, localizado no Largo dos Medeiros, quando ouvia nas Rádios ou lia nos jornais a perda de algum animal, ligava para o dono informando a localização, naturalmente foi o S. Tucha que o encontrou, antes de desligar o telefone, recomendava, insista pois ele gostou tanto o animalzinho que o levou para casa, mas ele é um homem bom e vai devolver, Tucha entrava em desespero.

Por fim, também ficou famosa, aquele que, quando um amigo estudante de Medicina, rejeitou um convite para festa em virtude de ter conseguido finalmente um cadáver para estudo de anatomia, e a disponibilidade na Santa Casa era no Sábado à noite, já na madrugada, tal amigo absorto em seus estudos, quando de um canto, com pouca luz se levanta um “cadáver” totalmente despido e vagarosamente começou e se vestir, o tal estudante evidentemente que perdeu a oportunidade dos estudos, pois fugiu apavorado, sem contudo mais tarde procurar desesperadamente por Oddone Greco para se vingar da oportunidade perdida.

Foram tantas, porém morreu cedo, de infarto em 1959, ainda solteiro, quando as rádios chamavam seus familiares que estavam nas Praias, ninguém acreditou, principalmente seus amigos, que pensaram tratar-se de mais um trote de Greco.

Porém sua simpatia e brincadeiras, sua vocação para o cômico, e a aversão a tristeza, fizeram ser um dos personagens mais famosos e folclóricos da Porto Alegre antiga, este foi Oddone Nicolino Greco.

sábado, 16 de outubro de 2010

Professor Brilhante - A nostalgia de um traço



Francisco Brilhante, o Professor Brilhante, nasceu no dia 02 de abril de 1901, o “velhinho simpático” habitava as escadarias da Igreja do Rosário, na Rua Vigário José Inácio, no centro de Porto Alegre, quem circulava pelo centro da cidade, nas décadas de 60 até 80, se lembrará, desta figura característica de nossa cidade, cavanhaque branco, óculos e boina. O inesquecível artista plástico permanecia nas escadarias da igreja, pintado retratos de todos que posavam para ele.


Falecido em 14 de junho de 1987, deixou, devido ao seu intenso trabalho e ao longo dos cinqüenta anos de produção, mais de 40 mil quadros pintados, espalhados pelo Brasil, retratou figuras ilustres como Mário Quintana, Borges de Medeiros, Pinheiro Machado, Getúlio Vargas, Washington Luis, Ildo Meneghetti, Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, entre outros. Embora o seu foco, o seu forte, fossem as pessoas que pousavam para ele, em sua grande maioria habitantes de Porto Alegre, deixou algumas paisagens, sobretudo de nossa cidade.

Professor Brilhante foi um dos artistas mais populares da cidade, dizia ele: “ a pintura não me deu dinheiro, vivo com pouco, mas em compensação, trabalhar da forma que escolhi me ensinou a viver e conhecer os homens”.

Formou-se em Artes Plásticas na Universidade do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, no ano de 1920, aperfeiçoado suas experiências, mais tarde, no Rio de Janeiro, capital na qual permaneceu cerca de quatro anos. Regressou a Porto Alegre, sua terra natal, onde recomeçou seus trabalhos nas Praças da cidade, fixando-se nas escadarias da Igreja por mais de 25 anos.

Muitas de suas pinturas, não necessitavam de modelo, eram realizadas com base em fotos 3x4, deixadas pelos fregueses. Utilizou, além das escadarias, as dependências da Igreja nas quais mantinha um ateliê para ministrar aulas, considerado com um estilo “parisiense” foi o precursor dos pintores de rua. Devido ao seu talento, o passeio localizado em frente ao McDonald’s, na Rua da Praia, e que abriga artistas de rua, recebeu o nome de nosso artista, Professor Brilhante. Ambos tiveram a honra de serem homenageados: o professor e o passeio. Também existe a Fundação Professor Brilhante, mesmo com esforços individuais, a cidade ainda não homenageou da forma como deveria ser este pintor inovador, o primeiro, o precursor, que sempre emprestava um certo charme a cidade uma ponta de romantismo, até este momento nenhum museu de Porto Alegre, mantém qualquer quadro do Professor Brilhante.